O Papa Francisco oferece-nos uma catequesis sobre o Triduo Pascal!

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

QUINTA FEIRA SANTA

Amanhã é Quinta-Feira Santa. De tarde, com a Santa Missa «na ceia do Senhor», terá início o Tríduo Pascal, morte e ressurreição de Cristo, que é o ápice de todo o ano litúrgico e também ponto culminante da nossa vida cristã.

O Tríduo inicia com a comemoração da Última Ceia. Jesus, na vigília da sua paixão, ofereceu ao Pai o seu corpo e o seu sangue sob as espécies do pão e do vinho e, oferecendo-os como alimento aos Apóstolos, ordenou-lhes que perpetuassem a oferenda em sua memória. O Evangelho desta celebração, recordando o lava-pés, expressa o mesmo significado da Eucaristia sob outra perspectiva. Jesus — como um servo — lava os pés de Simão Pedro e dos outros onze discípulos (cf. Jo 13, 4-5). Com este gesto profético, Ele exprime o sentido da sua vida e da sua paixão, como serviço a Deus e aos irmãos: «De facto, o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir» (Mc 10, 45).

Isto aconteceu também com o nosso Baptismo, quando a graça de Deus nos lavou do pecado e nos revestimos de Cristo (cf. Cl 3, 10). Isto acontece todas as vezes que repetimos o memorial do Senhor na Eucaristia: fazemos comunhão com Cristo Servo para obedecer ao seu mandamento, o de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 13, 34; 15, 12). Se recebermos a sagrada Comunhão sem estar sinceramente dispostos a lavar-nos os pés uns aos outros, não reconhecemos o Corpo do Senhor. É o serviço de Jesus que se doa a si mesmo, totalmente.

SEXTA FEIRA SANTA

E, depois de amanhã, na liturgia da Sexta-Feira Santa meditamos sobre o mistério da morte de Cristo e adoramos a Cruz. Nos últimos momentos de vida, antes de entregar o espírito ao Pai, Jesus disse: «Tudo está consumado» (Jo 19, 30). Que significa esta palavra? Jesus que diz: «Tudo está consumado»? Significa que a obra de salvação está completada, que todas as Escrituras encontram o seu pleno cumprimento no amor de Cristo, Cordeiro imolado.

No decorrer dos séculos há homens e mulheres que com o testemunho da sua existência reflectem um raio deste amor perfeito, pleno, incontaminado. Apraz-me recordar uma testemunha heróica dos nossos dias, padre Andrea Santoro, sacerdote da diocese de Roma e missionário na Turquia. Alguns dias antes de ser assassinado em Trebisonda, escrevia: «Estou aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça emprestando-lhe a minha carne… Só nos tornamos capazes de salvação oferecendo a própria carne. O mal do mundo deve ser carregado e o sofrimento partilhado, absorvendo-o na própria carne até ao fim, como fez Jesus» (A. Polselli, Padre Andrea Santoro, Le eredità [As heranças], Città Nuova, Roma 2008, p. 31). Este exemplo de um homem do nosso tempo, e de muitos outros, nos amparem na oferenda da nossa vida como dom de amor aos irmãos, à imitação de Jesus. E também hoje há tantos homens e mulheres, verdadeiros mártires que oferecem a sua vida com Jesus para professar a fé, unicamente por este motivo. Trata-se de um serviço do testemunho cristão até ao sangue, serviço que Cristo nos prestou: redimiu-nos até ao fim. E é este o significado daquela palavra «Está completado». Que bonito que será que nós, no fim da nossa vida, com os nossos erros, pecados, e também com as nossas boas acções, com o nosso amor ao próximo, possamos dizer ao Pai como Jesus: «Está completado»; não com a perfeição com que Ele o disse, mas dizer: «Senhor, fiz tudo o que podia. Está completado». Adorando a Cruz, olhando para Jesus, pensemos no amor, no serviço, na nossa vida, nos mártires cristãos, e também nos fará bem pensar no fim da nossa vida. Nenhum de nós sabe quando será, mas podemos pedir a graça de poder dizer: «Pai, fiz o que pude. Está completado».

SABADO SANTO.

O Sábado Santo é o dia no qual a Igreja contempla o «repouso» de Cristo no túmulo depois do combate vitorioso da cruz. No Sábado Santo a Igreja, identifica-se mais uma vez com Maria: toda a sua fé está reunida nela, a primeira e perfeita discípula, a primeira e perfeita crente. Na obscuridade que envolve a criação, ela permanece sozinha a manter acesa a chama da fé, esperando contra qualquer esperança (cf. Rm 4, 18) na Ressurreição de Jesus.

VIGÍLIA PASCAL

E na grande Vigília Pascal, na qual ressoa de novo o Aleluia, celebramos Cristo Ressuscitado centro e fim da criação e da história; vigiamos cheios de esperança na expectativa da sua nova vinda, quando a Páscoa terá a sua plena manifestação.

Às vezes a escuridão da noite parece penetrar na alma; outras vezes pensamos: «agora já não há nada a fazer», e o coração não encontra mais a força para amar… Mas precisamente naquela escuridão Cristo acende o fogo do amor de Deus: um clarão rasga a obscuridade e anuncia um novo início, algo começa na escuridão mais profunda. Nós sabemos que a noite é «noite funda», é mais escura pouco antes que comece o dia. Mas precisamente naquela escuridão é Cristo que vence e que acende o fogo do amor. A pedra do sofrimento está afastada cedendo o lugar à esperança. Eis o grande mistério da Páscoa! Nesta santa noite a Igreja entrega-nos a luz do Ressuscitado, para que em nós não haja mais a lamentação de quem diz «agora já não…», mas a esperança de quem se abre a um presente cheio de futuro: Cristo venceu a morte, e nós com Ele. A nossa vida não termina diante da pedra de um sepulcro, a nossa vida vai além com a esperança em Cristo que ressuscitou precisamente daquele sepulcro. Como cristãos somos chamados a ser sentinelas da manhã, que sabem distinguir os sinais do Ressuscitado, como fizeram as mulheres e os discípulos que acorreram ao sepulcro na alvorada do primeiro dia da semana.

Amados irmãos e irmãs, nestes dias do Tríduo Santo não nos limitemos a comemorar a paixão do Senhor, mas entremos no mistério, façamos nossos os seus sentimentos, as suas atitudes, como nos convida a fazer o apóstolo Paulo: «Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus» (Fl 2, 5). Então a nossa será uma «feliz Páscoa».

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